Neste instante, ele ouviu uma voz das profundezas do oceano que dizia: “Livre-se! Livre-se de seu esforço! Está tudo certo, você está bem! Namo Amida Butsu!”
O marinheiro ouviu a voz e parou com seu esforço inútil de tentar nadar por suas próprias forças. Ao invés disso, virou de costas, com os cotovelos abertos e as mãos atrás da nuca, como se estivesse deitado em seu gramado numa confortável tarde de verão. Ele estava surpreso por ver que o oceano o segurava, o suportava e o levava a qualquer parte, sem nenhum esforço de sua parte!
Agora, a água parecia quente e as ondas estavam calmas, pois sem nadar contra elas ele apenas subia e descia com seu passar. O oceano que antes parecia querer sugá-lo agora cuidava dele e ele estava agradecido e feliz em saber que tudo estava certo! Compreendeu, então, que tudo sempre esteve certo e que ele sempre esteve bem! Ele apenas não sabia disso. O oceano não mudou em nada. Mas alterando sua maneira de pensar, a relação do marinheiro com o oceano foi que mudou. O mar transformou-se de um inimigo perigoso e assustador, num amigo que abraça e apoia.
O marinheiro sabia que não podia boiar para sempre no meio do oceano. Se não tivesse nenhum outra obrigação ou responsabilidade, ele poderia ficar ali e desfrutar desta calma infinita. Mas, a imagem de sua mulher e filhos pequenos esperando em casa ansiosamente por sua volta o inspirou a tentar alcançar a costa.
Ele começou a nadar como antes, mas com uma importante diferença. Agora, ele confia no oceano como um ente querido que protege e consola. Ele sabe que toda vez que se cansar, pode deixar-se levar, pois o oceano o apoiará. Mais importante, ele agora sabe que enquanto nadar, será o poder do oceano e não o seu próprio que o manterá acima da água. Sim, ele move seus cotovelos para nadar, mas aprendeu que pode boiar sem se esforçar.
Agora que se sente seguro nos braços do mar, o marinheiro pode pensar em como achar uma ilha. Estuda a posição das estrelas e da lua, bem como a direção dos ventos. Usando seu treinamento como marinheiro, este imagina onde estaria a ilha mais próxima e se move em direção a ela. O nadador não tem nenhuma garantia de que escolhera a direção correta, mas agora tem certeza de que o oceano não o deixará se afogar. Eventualmente ele encontrará a ilha. Em retribuição por esta nova confiança e alegria, o marinheiro escuta a si mesmo murmurar: “Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu….!”
(Extraído do livro “Ocean – An Introduction to Jodo Shinshu Buddhism in America” – Rev. Kenneth K. Tanaka (Wisdom Ocean Publication) – Tradução livre de Shaku Hondaku)