O Dono da Terra: Metáfora Sobre o Renascimento

Na última semana, descobri que sou lido, pelo menos por uma pessoa. Isso me deixou espantado, uma vez que sempre pensei que ninguém lia o que eu escrevo. Fiquei ainda mais surpreso em saber que esse meu leitor, quiçá solitário, ainda gosta dos meus textos. Bom, se esse meu jeito doido de escrever está ajudando a uma única pessoa, já está valendo a pena.

Essa pessoa então me perguntou sobre o renascimento. “Afinal, quem ou o que renasce?”; “Renascimento ou Reencarnação?”; e como tenho uma visão didática para explicar isso, resolvi colocar aqui e deixar para todo mundo. Aí vai…

Imagine um pedaço de terra. Um sítio ou uma chácara. Com cercas, mas ao mesmo tempo integrada com seus vizinhos, como em um condomínio. Imagine, uma porção de terra cercada, com o solo com algumas plantinhas, mas sem nenhuma construção. Pode colocar uma árvore onde você quiser e algumas flores para ficar bonitinho, se preferir.

Pois bem. Agora imagine que você herdou essa propriedade, do jeito que a deixaram, pois simplesmente o último dono, que podia ser seu parente, a deixou para você, com todas as benfeitorias, plantações, dívidas e problemas, também.

Então, imagine-se encostado na cerca, olhando a paisagem e pensando no que poderia fazer com aquele pedaço de solo. Como tudo na vida, você pode simplesmente não fazer nada, ficar ali parado vendo o tempo passar e ver o mato crescer, a árvore dar frutos, as plantinhas florescerem. Porque esta terra, vai ter seu ciclo com ou sem sua interferência.

Mas digamos que você resolve interferir e começa a lidar com a terra. Ara de um lado, gradeia do outro (meu pai tem uma fazenda, é por isso que conheço os termos!) e finalmente resolve fazer uma pequena plantação de milho, que seja. Do outro lado, você semeia árvores frutíferas, umas dez ou doze e na outra ponta constrói um pequeno casebre.

Depois de um tempo, no meio da plantação de milho aparecem alguns pézinhos de feijão. “Mas que coisa estranha!”, pensa você. “Eu só plantei milho. Como pode?” Com um pouco de trabalho, você retira os pés de feijão que estavam invadindo seu terreno, só que onde tinha feijão, o milho não nasceu.

Já, do lado do pomar, nem todas as árvores frutíferas germinaram, mas as que se desenvolveram geraram sombra e alimento que garantiu sua subsistência por algum tempo e também lhe garantiu relacionamento com seus vizinhos, pois eles usavam parte do adubo que você gera com as cascas das frutas e os sabugos de milho. Ao mesmo, tempo, sendo que suas terras não tinham água suficiente, você utilizava o poço artesiano de seu outro vizinho. Criando assim, uma relação simbiótica. Interdependente.

Um belo dia, ou não tão belo assim, ao passar com seu trator sobre um monte de terra, abre uma cratera e de lá saem centenas de lagartas que passam a atacar seu milho e seu pomar. “Mas de onde surgiram essas lagartas? Há quanto tempo estavam aí? Porque foram aparecer agora?”. Não havia muito o que fazer, além de combater os efeitos da ação das lagartas, uma vez que elas já estavam lá. Foi um período ruim, mas não foi nenhuma tragédia.

Depois de algumas décadas, você resolver partir. Buscar outra terra. E deixa esta que você trabalhou, da maneira que estava. Com sua plantação de milho, seu pomar e seu casebre. Então, você resolve doa-la a outra pessoa, que logo que você sai, ela toma posse dessa sua ex-gleba. E esse novo proprietário, da mesma maneira que você, começa a olhar para a terra e tomar decisões do que fazer: “Continuo com a plantação de milho? Acho que sim. E o pomar? Acho que vou plantar mais árvores. Água? Vou construir um poço, mas ainda mantenho a amizade com meu vizinho. E a casa? Não vou fazer nada com ela, que está bem assim.” E o ciclo recomeça.

Nossa vida é a terra, o fazendeiro é nossa mente; a decisão de fazer algo, é nosso pensamento; a plantação, o pomar e o casebre são nossas ações; nossos vizinhos são a interdependência que temos com todos os seres. As flores, as espigas de milho, as frutas são os resultados de nossas ações, nosso karma. As lagartas e os pés de feijão, são o karma que adquirimos de outras vidas.

Então, o que renasce? A nossa terra renasce, ou seja, ela continua do jeito que a deixamos, mas alguém diferente toma possa dela e assume os efeitos que deixamos lá, tomando suas próprias decisões, baseados em seus próprios julgamentos. Sendo que os resultados das ações desse novo proprietário irá modificar a terra para o próximo dono.

O que renasce é o resultado de nossas ações, pensamentos e palavras.

Espero poder ter ajudado!

Namo Amida Butsu!