Uma interpretação do Cap. X do Tannisho

Capítulo X

“O SIGNIFICADO DO NEMBUTSU ESTÁ NO NÃO-SIGNIFICADO, ISSO POR SER ELE INOMINÁVEL, INEXPRIMÍVEL E IMPENSÁVEL. ASSIM DISSE O MESTRE.”

sky-nemb-dark-red

Por que Shinran afirma que: O significado do Nembutsu está no Não-Significado?
Assim como a maioria das Escolas do Oriente, Shinran expressa o Absoluto, NEGANDO-O, porque: dar um nome, definir, medir, entender, etc, implicam em LIMITAÇÃO e o ABSOLUTO é ILIMITADO.
Recitar o Nembutsu, como já sabemos, é ter sempre Buda Amida em Mente, é aceitar, reverenciando, toda a sua Grandiosidade.
O Buda Sakyamuni, ou Buda Histórico, despertou para a Verdade Absoluta, para o Dharma, e à partir disto, dizemos que o Buda e o Dharma são inseparáveis.

E o grupo de pessoas que percebe isto, constitui a Sangha ou Comunidade, desperta para Buda Amida (para a Verdade).
Eles formam um Trio que é chamado: ” As Três Jóias do Budismo”, que constituem o Nembutsu em si no qual tomamos refúgio.
Pode acontecer que algumas vezes, confunda-se esta explicação com a palavra NEMBUTSU reduzida apenas a uma expressão intelectual, à uma maneira didática de expressar palavras. Mas, devemos lembrar que: O Nembutsu não é expressão intelectual, nem recurso didático para expressar algo, o Nembutsu em verdade, é algo que transcende o Ego, o Intelecto. Ele não depende de critérios que tentamos impor através do nosso Ego.

E é isto, o conteúdo do nosso Capítulo X. O Nembutsu refere-se à experiência de Iluminação, ao encontro com a Verdade Absoluta. Sidarta Gautama, o Buda Sakyamuni, foi quem legou-nos esta experiência, que serve de modelo até hoje.
O Nembutsu é portanto, uma palavra-símbolo que expressa a Verdade Absoluta e Infinita, mas, ao mesmo tempo, não é uma Verdade que pode ser expressa em palavras, porque assim sendo, ela está sendo limitada, e esta Verdade Absoluta é Ilimitada, é A-MIDA.
Para que isto possa ser melhor entendido, podemos fazer um paralelo com o “Princípio da Gravitação Universal de Newton” que foi expresso em palavras mas não é o Princípio em si. O nosso Princípio, que o Buda Sakyamuni experimentou e que não é possível ser reduzido a palavras, é o Princípio da Verdade Absoluta, da Verdade Total: Inexprimível, Inominável, Impensável, Imensurável, Ininteligível: É A-MIDA, É NEMBUTSU.

Para explicar algo com estes características, o Mestre Shinran utilizou a Negação e o Paradoxo, como sendo os melhores recursos para ser entendido, ou seja: “O SIGNIFICADO DO NEMBUTSU ESTÁ NO NÃO-SIGNIFICADO”. Isto quer dizer, que o Nembutsu, está além da explicação engendrada pelo Ego, porque o Nembutsu é o Dharma Absoluto, o Infinito.
E, na época em que o mestre Shinran atuou, apareceram pessoas que não compreenderam o Nembutsu, e o interpretaram como algo mágico, como acessível somente à pessoas eruditas. Veremos que os Sete restantes capítulos do livro Tannishô, baseiam -se todos na Má Interpretação da afirmativa do presente.

Resumindo: O Nembutsu é a atividade da Verdade, que nada tem a ver com o significado da Verdade limitada pelo Ego. E não entenderemos o que é o Nembutsu, se não tivermos a experiência religiosa. O Nembutsu só pode ser compreendido à partir da Vivência, porque a repetição do Nome em si, não tem força para trazer a Vivência. A Vivência Religiosa no entanto, traz o Nembutsu até nós.
TEMOS QUE TER ESTA VIVÊNCIA, e então ela será expressa pela palavra, pelo Nome (Namu Amida Butsu).
Quando no texto, Shinran negou qualquer definição para o Nembutsu, ele abriu campo para que as opiniões sobre o mesmo fossem rompidas. Toda definição é parcial, tendenciosa, sempre favorecendo suas conveniências. Nunca é a Realidade.
Por isso não é possível definir o Nembutsu porque ele não é limitado.
A experiência religiosa é sempre individual, à nível pessoal. Todos nós somos essencialmente egoístas, e a palavra Amida, ou Absoluto, ou Deus, são palavras que expressam um estado de Não-Egoísmo. Dizer: “Sou Deus” é disparate, porque todos nós somos egoístas pelo próprio fato de sermos seres humanos, e as palavras Deus, ou Amida, ou Absoluto, significam ausência de Egoísmo. Nós podemos dizer, que somos uma unidade do esquema universal, que contribuímos para a execução deste esquema, mas não podemos dizer que somos o próprio, porque somos limitados e egoístas, e este esquema que funciona obedecendo as Leis Absolutas, é ilimitado, é aquele algo que não é definido, nem medido, nem inteligível, é o Amida, é o Namu Amida Butsu.

Por este caminho, podemos dizer que: É necessário viver primeiramente a experiência religiosa, para então expressar o Namu Amida Butsu. E, experiência religiosa é: compreender os fatos vivenciando-os dentro da Verdade.
No Budismo, as experiências religiosas passam a fazer parte do cotidiano.
SER BUDA, é vivenciar no dia-a-dia, as experiências centradas no sujeito, e à partir disto, Despertar. É buscar as mensagens do Absoluto, da Natureza, em relação ao nosso dia-a-dia. E, colaborando com esse Absoluto, vamos aos poucos percebendo toda a sua grandiosidade, e vamos aos poucos com ele nos harmonizando.
Com isto, surge a vontade de reverenciar esta Grandiosidade, o que fazemos através da recitação do NAMU AMIDA BUTSU, que vai aos poucos nos levando a uma superação do Ego, e a um mergulho no mundo do Inominável, Inexprimível, Impensável, Imensurável, o mundo da Terra Pura, da Paz Suprema.

Revª. Leninha Cipriani